quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Edgar Costa, mais um filho de Câmara de Lobos



É o mais velho dos seis filhos da família costa. De criança rebelde a futebolista

Em Câmara de Lobos todos lhe desejam sorte. Até os maritimistas...

Edgar Costa é actualmente o jogador madeirense da Liga Portuguesa de Futebol de quem se fala. Depois de ter sido titular contra FC Porto, Sporting e Portimonense, e de ter demonstrado as razões que conduziram à confiança de Jokanovic, o câmara-lobense assumiu o papel principal diante da turma de Portimão, sendo o 'homem do jogo', apontando mesmo um golo de 'bandeira' que acabou por consumar uma reviravolta.

Mas quem é este jovem que vem seguindo as pegadas do amigo Rúben Micael, agora no FC Porto e Selecção Nacional, e paulatinamente já está na ribalta do futebol português?

Tal como o jogador que actualmente se encontra ao serviço do Dragão, Edgar iniciou-se no Grupo Desportivo do Estreito, transferiu-se para o União, onde fez toda a formação, até atingir os seniores. Na época 2008/2009 dá o grande salto da sua carreira ao ingressar num clube da Liga Profissional, o Nacional.

Criança incontrolável
Edgar Costa era na sua infância uma criança incontrolável, irreverente, um líder no contraditório que não gostava muito de respeitar normas e regras. Mas quem o conhecia via nele um jogador talentoso e uma pérola por limar.

O talentoso jogador era egoísta, daqueles que, como se diz na gíria, 'gostava de levar a bola para casa'. Dava-lhe enorme gozo driblar os adversários, não se livrando de entradas mais impetuosas. Mas, a modos de uma 'florzinha de estufa', por cada entrada mais ríspida de um adversário reagia sempre de forma intempestiva... Isso valeu-lhe alguns dissabores.

Naturalmente que com o passar dos anos, Edgar Costa foi sendo moldado e ganhou maturidade, sendo nos dias de hoje um jogador completamente diferente, embora mantenha as características que fazem dele uma aposta que parece estar ganha. É destemido, não tem medo de arriscar, e mantém alguns tiques de egoísmo, que quando colocado ao serviço da equipa, são sempre bem-vindos.

Foi o que aconteceu frente ao Portimonense. Depois de arriscar por duas vezes, colocando à prova o guarda-redes adversário, 'à terceira' foi de vez. Um golo de fazer levantar qualquer estádio. Progressão da direita para o centro do terreno e um remate com o pé esquerdo que, não sendo o melhor, resultou num bonito golo.

Jogar num grande e ir à selecção
"Não é a primeira vez que marco golos com o pé esquerdo, já fiz muitos antes de vir para o Nacional", reagiu Edgar Costa à provocação do DIÁRIO, de ter sido ou não o seu amigo, Nuno Pinto, quem lhe ensinou a rematar com o dito cujo.

Apesar de no jogo com os algarvios ter alinhado numa posição que não lhe é muito peculiar, sendo obrigado a trabalhar mais, mormente nas acções defensivas - "é isso que o treinador me pede, é isso que faço" -, Edgar diz que o que pretende é "jogar", independentemente do lugar que ocupar em campo, pois enquanto profissional do clube trabalha "sempre com o objectivo de ajudar o clube a atingir os seus objectivos".

Transferido na temporada passada vindo de um clube e de uma competição menos exigente para uma colectividade e uma Liga onde o grau de profissionalismo é muito maior, considerou que " a primeira época foi de adaptação" mas agora pretende conqistar o seu "próprio espaço na equipa". Nesse contexto, aponta: "Quero agarrar esta oportunidade que me foi dada para continuar a mostrar o meu futebol e ajudar o Nacional a subir na classificação e regressar à Europa".

Num curto espaço de tempo já trabalhou com Manuel Machado e Predrag Jokanovic, mas evitou fazer comparações. "Cada treinador tem os seus métodos e nós como profissionais do clube temos de os respeitar", clarificou.

Depois de afirmar que não recebeu os parabéns em particular do mister pelo golo que marcou, nem estava a espera que isso acontecesse porque o "mérito é sempre do colectivo", adiantou que no final da partida Jokanovic foi ao balneário felicitar todo o grupo "pelo sacrifício que todos fizeram em chegar à vitória". Contudo, refere que tem "recebido elogios pela exibição e pelo golo contra o Portimonense". "Isso dá-me uma vontade enorme de trabalhar cada vez mais para um dia me sentir realizado e conseguir chegar onde pretendo".

Apesar de sempre acreditar nas suas possibilidades, houve uma fase da sua carreira que sentiu-se desiludido, chegando mesmo a pensar que o seu sonho de menino tinha sofrido um revés e que muito dificilmente poderia atingi-lo. "Aconteceu ainda na formação do União, mas não quero falar muito nisso, pois já faz parte do passado".

Por falar em balneário, Edgar Costa disse que a "coabitação entre jogadores do leste, brasileiros e portugueses não podia ser melhor", pois todos sabem "separar quando o tempo é de brincadeira e de boa disposição, que também acontece, e quando toca a trabalhar".

"Manter a titularidade, valorizar-se e crescer como jogador" é o objectivo imediato de Edgar Costa, que sonha "um dia chegar a um clube dos grandes e jogar pela selecção nacional", mas para lá chegar sabe que tem de "dar um passo de cada vez e esperar que os momentos e as oportunidades aconteçam."

Por mais de uma vez o nome de Edgar Costa foi referenciado pelo Vitória de Guimarães, primeiro quando ainda jogava no União e, mais recentemente, no último defeso. Para além de confirmar esses contactos, diz que só pensa no Nacional, clube com o qual tem contrato até 2014.

Parafraseando Francisco Fanhais, "vimos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar" e se ou outros acreditaram e conseguiram, porque não também tu, Edgar?

Uma família desportista
Em Câmara de Lobos, o DIÁRIO conversou com o clã Costa, uma família de desportistas, jovem alegre e divertida. A mãe, D.ª Fátima, não queria que Edgar jogasse futebol na adolescência. Antes preferia vê-lo a estudar e depois trabalhar para ajudar os irmãos mais novos. Já o pai, Agostinho Costa, foi o grande impulsionador e responsável para que o seu primeiro rebento praticasse a modalidade.

"Ele nunca se fartava de jogar, vinha dos treinos e ia de seguida jogar com o Rúben Micael", disse D.ª Fátima, enquanto o seu progenitor, que acompanha sempre os jogos de Edgar desde a sua infância aos dias actuais, recorda: "Andava sempre a comprar bolas de futebol pois os vizinhos prendiam-nas quando iam para os seus terrenos e uma bola era sempre a alegria dele e dos amigos".

Fruto da união do casal, nasceram quatro filhos e duas filhas. Edgar, 23 anos, é o mais velho. Rita tem 22 anos e joga voleibol no Câmara de Lobos. Agostinho, 18, é a ovelha tresmalhada da família em termos desportivos. Simplesmente não gosta de futebol. "Nunca teve muito jeito", acrescenta o pai. "Ele gosta mas é de computadores, de desmanchar e depois montar".

Na escada descendente surge Luciano, que alinha nos juniores do União. "Vou ser melhor jogador que o Edgar", disse firme e bastante convencido das suas palavras. Já Erica, 15 anos, jogava futebol no Marítimo mas desistiu, prometendo brevemente regressar à competição.

Por fim, o 'benjamim', o mais traquina e extrovertido da família, Pedro, sempre com uma resposta rápida na ponta da língua... Um género de Edgar quando tinha a sua idade. Joga nos iniciados dos Xavelhas e apesar de ter sido dispensado do Nacional não vai no canto da sereia e promete que vai ser "melhor que o Luciano e o Edgar".

Rita, bastante ponderada nas suas afirmações, informou que a vida do Edgar mudou "completamente" após a transferência para o Nacional: "Ganhou mais maturidade e juízo, pois sabia que para ser um profissional a sério tinha que alterar atitudes e comportamentos."

O jogador do Nacional é quase como o abono da família e, neste contexto, gosta de ajudar os irmãos, todos eles adolescentes e estudantes. O Pedro é o mais beneficiado murmuram em uníssono. "Até sapatilhas de marca lhe compra", comenta a mãe.

Amigos do peito mas provocadores
Edgar Costa é um 'xavelha de gema' que não renega as suas origens, antes pelo contrário, sente "muito orgulho" em ser de Câmara de Lobos. Um grupo de amigos, ao se aperceberem que o jogador do Nacional estava a ser entrevistado, aproximou-se e acompanhados de umas loiras, começaram nos piropos ou não estivéssemos num dos santuários mais maritimistas da região.

"Todos queremos o seu melhor mas desde que o Marítimo ganhe", disse o seu primo Noémio que no jogo com o Portimonense viu Edgar correr para a bancada nova, onde se encontrava, juntamente como outros camaralobenses, para os abraçar e compartilhar a felicidade do momento. E quando for o Nacional- Marítimo como vai ser? "Eu até entro em campo para o abraçar mas depois quero que o meu clube marque 2 ou 3".

Outra provocação, agora de Atanásio que jogou no Estreito, Santacruzense e Choupana, entre outros clubes da região: "Ele não joga nada e anda mas é a enganar, só marcou um golo porque os xavelhas foram lá o apoiar" (gargalhada geral).

História de Rúben e Edgar
A amizade entre Rúben Micael e Edgar Costa, é como o brandy Constantino - já vem de longe - e quando o jogador nacionalista foi confrontado para que narrasse algum facto da sua infância que o marcasse, foi ao seu baú de recordações e de lá tirou um episódio singular…

Quando eram infantis e jogavam no Estreito, combinaram chegar atrasados a um jogo no campo do Pizo. O jogo mal tinha iniciado e eis que chegam os 'refractários'. Acto contínuo, foram equipar-se e em escassos 5 minutos já estavam prontos para entrar e o Estreito a queimar duas substituições. "Coisas da idade", recorda, mas esta foi uma forma de mostrar a "insatisfação como o treinador". No final ganhou o Estreito e tudo acabou bem.

Fora de Campo
Prato preferido?
Não tenho prato preferido. Sou bom garfo.

Bebida?
Brisa maracujá.

Loiras, nada?
Só nas festas, e quando não há competição.

Então, morenas…?
…(sorrisos) …

Namoradas, muitas?
Ainda não tenho…

Hobby?
Ténis ou outra prática desportiva.

Uma recordação que guarde de infância?
Ter de ir trabalhar para a construção civil nas férias para ter um telemóvel.

Clube de simpatia?
13 anos com o emblema do União foram uma vida. Agradeço muito ao Nuno Naré. Nacional porque é o clube onde me estou a afirmar.

Estreito?
Diz-me muito pois foi lá que me iniciei como futebolista. De lá saíram muitos e bons jogadores.

Melhor golo?
Na Luz o melhor, com o Portimonense o mais importante.

Túnel da Luz pior que os da Madeira?
Já faz parte do passado e as cenas tristes são para esquecer.

Câmara de Lobos?
A melhor terra da Madeira.

Rúben Micael?
É um dos meus melhores amigos, ajudou-me muito, deu-me conselhos e eu gosto sempre de ouvi-lo.

Nuno Pinto?
É um bom amigo, bom jogador e que faz o favor de me dar boleia.

Carta de condução para quando?
Já comprei um carro e dentro de um mês espero conduzir.

Férias, onde costuma passar?
Na Madeira e em Setúbal. Tenho lá amigos que jogaram comigo no União, especialmente o Luís Conceição. Considero ele e os seus pais uma segunda família. Até me tratam por filho e convidam-me sempre para lá ir.

Viagem de sonho, tem?
Ibiza e Miami, mas isso fica para depois. Prioritário agora é ajudar a minha família.

Dá-se melhor com portugueses, brasileiros ou com os jogadores de leste?
A língua do futebol é universal. Dou-me bem com todos.

Rúben merece estar na selecção
"O Rúben bem trabalhou para merecer esta chamada à Selecção Nacional" que "apenas peca por tardia" disse Edgar Costa quando instado a comentar sobre mais recente convocatória de Paulo Bento. "Era um sonho que ele procurava desde pequeno e eu fico muito feliz com isso".

Noutro contexto, Edgar foi um dos primeiros destinatários duma camisola do 'dragão'. Edgar confirma que vai guardá-la como uma grata recordação e "colocá-la num quadro".

Melhor infantil e internacional Sub-19
Edgar Costa foi considerado o melhor infantil da Madeira em 1998, valendo-lhe representar a selecção de Portugal que participou num torneio internacional. Na altura representava o Estreito e recebeu do presidente Alcides "três contos (15 euros) como ajudas de custo. Mais tarde na qualidade de júnior do União, representou a selecção de Portugal nos sub-19 nos dois jogos de apuramento para o campeonato da Europa com a Escócia. Depois lesionou-se e caiu no esquecimento.


Fonte:DN-Madeira

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