Há meses que se tornou frequente. Parte da frente-mar de Câmara de Lobos está quase todos os dias conspurcada de tons 'acastanhados', devido, segundo foi possível apurar, a descargas de lamas em linhas de águas motivadas essencialmente pela execução de obras públicas da responsabilidade do Governo Regional.
Esta realidade que começou a ser mais evidente na zona situada em frente à Praça da Autonomia, a partir da foz da ribeira do Vigário, e foi despoletada pelas obras de construção da futura via expresso de ligação ao Estreito e ao Jardim da Serra, tendo mais recentemente sido reforçada com novas descargas num ribeiro existente nas proximidades, mas desta feita provocado pela execução de uma estrada municipal de ligação entre o Ribeiro da Alforra e o Limoeiro, cuja construção faz-se precisamente ao longo da margem desse ribeiro, a escassas centenas de metros da sua foz.
Porque ao contrário da construção da principal via rodoviária para a zona alta do concelho ter obrigado à criação de zonas de decantação por forma a reter o 'grosso' das lamas provenientes desta obra, na outra obra também lançada pelo Governo Regional, tal processo de 'filtragem' das terras remexidas não existe, razão pela qual essas lamas são encaminhadas directamente para o mar, sendo que o ribeiro desagua defronte da pequena encosta do Serrado do Mar, a Oeste da cidade câmaralobense.
Esta empreitada tem sido, de resto, responsável pela assinalável quantidade de lamas que ultimamente, e praticamente todos os dias, são despejados pelo ribeiro, deixando um extenso e bem saliente rasto de tons acastanhados junto da linha de costa.
"Que acabe antes do Verão"
O presidente da Câmara reconhece o incómodo e a 'interferência' da coloração invasora 'pinta' a bonita paisagem da frente mar do Concelho, mas sustenta que para se poder concretizar algumas obras é preciso sujeitar-se às suas consequências directas, nomeadamente aos impactos provocados pelo remexer das terras junto das linhas de água.
Alegou, de resto, ser pouco viável na obra que está a ser levada a cabo perto da cidade, tentar, através de um processo de decantação, reter as lamas que resultam da necessária movimentação de terras junto da linha de água, uma vez que a sua execução "corre ao longo do ribeiro" e estes trabalhos ocorrerem já muito perto do litoral.
Pese embora a 'compreensão' manifestada, Arlindo Gomes desabafou: "Só espero que isto acabe antes do Verão".
De salientar, a propósito, que esta realidade ainda consegue ser 'disfarçada' quando chove, uma vez que já se tornou frequente, sempre que tal acontece, 'à boleia' do aumento dos caudais das ribeiras o mar acabar normalmente por 'mudar de cor'. Agora quando não há pluviosidade em terra e o mar azulinho aparece apenas 'pincelado' de castanho em pontos precisos, aí a coisa muda de figura pela evidência de que se trata de terras vindas das obras em curso.


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