Droga e assaltos afligem os idosos

Os relatos sucessivos de assaltos e o tráfico de droga preocupam a população do Estreito de Câmara de Lobos. Os mais idosos são 'presas fáceis'
Assaltos, droga, insegurança. Nem é preciso formular uma questão para que surja um rol de preocupações por parte de quem vive na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos. O receio não escolhe idades, mas aflige principalmente a população idosa, alvo preferencial, segundo consta. "O que tem de melhor aqui é que as pessoas são mais ou menos, mas às vezes também são más, cada vez se fala mais de drogas e dessas coisas todas que aparecem, de vez em quando, por aí", aponta José Faria.
Num banco de madeira junto ao Centro Cívico do Estreito, José Faria conta que já vive no centro da freguesia há mais de 30 anos, depois de ter vivido, em jovem, no Covão. Mesmo que tivesse oportunidade, não trocaria o sítio onde vive por outro, apesar de todas as contrariedades e dos sucessivos relatos de assaltos a residências. Os autores já não se escondem. "É de dia ou de noite", refere, frisando que estas situações ocorrem com mais frequência nas zonas mais isoladas. "As pessoas agora não têm muita segurança em casa, às vezes até querem ir dar uma voltinha, mas já não têm aquele à vontade de deixar a casa sozinha", sublinha.
O medo de represálias remete muitas opiniões para o anonimato. Isabel (nome fictício) constitui um desses casos. "Estamos desgraçados aqui", aponta Isabel, revoltada. "O que há mais aqui são ladrões, eu ando com a minha carteira, mas com medo, não tenho dinheiro, só um chaveiro", revela, aconchegando a mala ao colo. Em poucos minutos, revela uma série de episódios recentes, passados na freguesia. "Há já muitas pessoas que foram assaltadas, anda tudo com medo, toda a gente se queixa", aponta. "Até meias eles metem na cabeça, não se sabe quem é, até podem ser vizinhos", lamenta. O medo de estar por casa começa a tomar conta de muitas pessoas, como apontou ao DIÁRIO. "Há muitos casos de reformas roubadas", explica, acrescentando que os idosos têm sido os principais visados nestes crimes.
Onde pára a Polícia?
Maria José Pontes conversa à porta de Maria de Barros. Normalmente, é assim que passa o dia, fora de casa porque tem medo de estar sozinha. Embora confesse que gosta das pessoas, dos "vizinhos", lamenta que aquela zona se tenha tornado "muito perigosa" por causa dos toxicodependentes. "Vêm muitos se drogar para aqui e como vivo só tenho muito medo de estar em casa, principalmente de noite", confessa. Mesmo assim, durante o dia evita estar sozinha, encontrando nos vizinhos uma companhia.
"Para que é que fizeram o posto de polícia?", interroga-se Maria de Barros, perante o fecho do posto de atendimento da PSP, no centro do Estreito. Maria de Barros acredita que as 'passagens' da PSP pela freguesia "não são suficientes". "Nos lugares onde eles deviam estar ou a passar ronda, não passam", explica, reclamando "mais segurança".
Encostado ao táxi, Manuel de Sá, residente no centro do Estreito de Câmara de Lobos, garante que "o que está a afectar muito a freguesia é a droga". "É o que faz haver assaltos", continua, acusando a falta de policiamento à noite como um dos motivos para a frequente ocorrência de assaltos.
"O que faz falta aqui é um posto de polícia, nunca devia ter sido fechado", garante. "A mim não me mete receio [os assaltos], mas há pessoas a quem mete, principalmente aos idosos", afirma, acrescentando nunca ter passado por uma situação de desespero desse nível.
José Faria também condena a falta de policiamento. "O que se vê nos outros também nos pode acontecer", confessa. "Se fizessem um posto de polícia era melhor porque as pessoas andavam mais confiantes", afirma. De vez em quando, nos pequenos passeios que dá pelo centro do Estreito, José Faria vê a polícia passar. "Não é sempre, mas, de vez em quando, eles andam por aqui, até por causa da escola, eles aparecem, mas não vamos dizer que é sempre", frisa.
A nível de comércio e serviços, não apontam queixas. Há supermercados, mercearias, comércio em geral. Grande parte da população possui terrenos para cultivo, principalmente para a produção de uva. Contudo, apontam que há uma lacuna em termos de acesso aos serviços de saúde.
Centro de Saúde insuficiente
"É outro problema que temos cá, as pessoas reclamam muito sobre o Centro de Saúde". À semelhança de Manuel de Sá, várias são as vozes que se levantam face à insuficiência de meios do Centro de Saúde do Estreito de Câmara de Lobos.
A falta de médicos origina dificuldades de acesso às consultas, como também apontou Maria de Barros. "No Centro de Saúde, quando vamos para vagas, ficamos das 8 às 11 horas e depois, a essa hora, já não tem", explica, referindo que, muitas vezes, volta para casa para almoçar e, à tarde, tenta de novo a sua sorte. "Na parte da tarde, ficam até às 17 horas e depois vamos para casa sem consulta, sem nada", acrescenta.
Para fugir à escassez de consultas no Estreito, Maria de Barros confessa que ruma a Câmara de Lobos. "As pessoas não vão para o Funchal, vão socorrer-se do Centro de Saúde de Câmara de Lobos", afirma.
José Faria queixa-se menos. "Todas as vezes que vou lá, tenho sido atendido, não tenho visto muita gente a reclamar, mas, de qualquer maneira, parece que está dentro do nível", frisa, sublinhando que as demoras que possam ocorrer são "normais".
Apesar dos reparos, ninguém trocaria o sítio onde vive por outro. " Para onde vou agora com esta idade? Não posso trabalhar, não posso fazer nada, tenho de sujeitar-me aqui", graceja José Faria.
Num banco de madeira junto ao Centro Cívico do Estreito, José Faria conta que já vive no centro da freguesia há mais de 30 anos, depois de ter vivido, em jovem, no Covão. Mesmo que tivesse oportunidade, não trocaria o sítio onde vive por outro, apesar de todas as contrariedades e dos sucessivos relatos de assaltos a residências. Os autores já não se escondem. "É de dia ou de noite", refere, frisando que estas situações ocorrem com mais frequência nas zonas mais isoladas. "As pessoas agora não têm muita segurança em casa, às vezes até querem ir dar uma voltinha, mas já não têm aquele à vontade de deixar a casa sozinha", sublinha.
O medo de represálias remete muitas opiniões para o anonimato. Isabel (nome fictício) constitui um desses casos. "Estamos desgraçados aqui", aponta Isabel, revoltada. "O que há mais aqui são ladrões, eu ando com a minha carteira, mas com medo, não tenho dinheiro, só um chaveiro", revela, aconchegando a mala ao colo. Em poucos minutos, revela uma série de episódios recentes, passados na freguesia. "Há já muitas pessoas que foram assaltadas, anda tudo com medo, toda a gente se queixa", aponta. "Até meias eles metem na cabeça, não se sabe quem é, até podem ser vizinhos", lamenta. O medo de estar por casa começa a tomar conta de muitas pessoas, como apontou ao DIÁRIO. "Há muitos casos de reformas roubadas", explica, acrescentando que os idosos têm sido os principais visados nestes crimes.
Onde pára a Polícia?
Maria José Pontes conversa à porta de Maria de Barros. Normalmente, é assim que passa o dia, fora de casa porque tem medo de estar sozinha. Embora confesse que gosta das pessoas, dos "vizinhos", lamenta que aquela zona se tenha tornado "muito perigosa" por causa dos toxicodependentes. "Vêm muitos se drogar para aqui e como vivo só tenho muito medo de estar em casa, principalmente de noite", confessa. Mesmo assim, durante o dia evita estar sozinha, encontrando nos vizinhos uma companhia.
"Para que é que fizeram o posto de polícia?", interroga-se Maria de Barros, perante o fecho do posto de atendimento da PSP, no centro do Estreito. Maria de Barros acredita que as 'passagens' da PSP pela freguesia "não são suficientes". "Nos lugares onde eles deviam estar ou a passar ronda, não passam", explica, reclamando "mais segurança".
Encostado ao táxi, Manuel de Sá, residente no centro do Estreito de Câmara de Lobos, garante que "o que está a afectar muito a freguesia é a droga". "É o que faz haver assaltos", continua, acusando a falta de policiamento à noite como um dos motivos para a frequente ocorrência de assaltos.
"O que faz falta aqui é um posto de polícia, nunca devia ter sido fechado", garante. "A mim não me mete receio [os assaltos], mas há pessoas a quem mete, principalmente aos idosos", afirma, acrescentando nunca ter passado por uma situação de desespero desse nível.
José Faria também condena a falta de policiamento. "O que se vê nos outros também nos pode acontecer", confessa. "Se fizessem um posto de polícia era melhor porque as pessoas andavam mais confiantes", afirma. De vez em quando, nos pequenos passeios que dá pelo centro do Estreito, José Faria vê a polícia passar. "Não é sempre, mas, de vez em quando, eles andam por aqui, até por causa da escola, eles aparecem, mas não vamos dizer que é sempre", frisa.
A nível de comércio e serviços, não apontam queixas. Há supermercados, mercearias, comércio em geral. Grande parte da população possui terrenos para cultivo, principalmente para a produção de uva. Contudo, apontam que há uma lacuna em termos de acesso aos serviços de saúde.
Centro de Saúde insuficiente
"É outro problema que temos cá, as pessoas reclamam muito sobre o Centro de Saúde". À semelhança de Manuel de Sá, várias são as vozes que se levantam face à insuficiência de meios do Centro de Saúde do Estreito de Câmara de Lobos.
A falta de médicos origina dificuldades de acesso às consultas, como também apontou Maria de Barros. "No Centro de Saúde, quando vamos para vagas, ficamos das 8 às 11 horas e depois, a essa hora, já não tem", explica, referindo que, muitas vezes, volta para casa para almoçar e, à tarde, tenta de novo a sua sorte. "Na parte da tarde, ficam até às 17 horas e depois vamos para casa sem consulta, sem nada", acrescenta.
Para fugir à escassez de consultas no Estreito, Maria de Barros confessa que ruma a Câmara de Lobos. "As pessoas não vão para o Funchal, vão socorrer-se do Centro de Saúde de Câmara de Lobos", afirma.
José Faria queixa-se menos. "Todas as vezes que vou lá, tenho sido atendido, não tenho visto muita gente a reclamar, mas, de qualquer maneira, parece que está dentro do nível", frisa, sublinhando que as demoras que possam ocorrer são "normais".
Apesar dos reparos, ninguém trocaria o sítio onde vive por outro. " Para onde vou agora com esta idade? Não posso trabalhar, não posso fazer nada, tenho de sujeitar-me aqui", graceja José Faria.
Zélia Castro
Com a devida vénia do DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA

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